Sobre um texto meu.

Saiu na Germina um texto meu sobre poesia goiana: aqui. E olha: é uma honra enorme, enorme, enorme (vocês não imaginam quanto!), ser publicado pela Germina.

Gente brilhante já apareceu por aí com textos brilhantes. Poderia ficar um bom tempo rasgando seda, mas vou me contentar em citar dois textos que, há mais ou menos 11 anos atrás, foram publicados na Germina e que são, a meu ver, textos fundamentais a respeito de poesia e crítica contemporânea: A cisma da poesia brasileira, de Marcos Siscar, e A demissão da crítica, do Paulo Franchetti.

Pois é, pois é. Querem saber como esse texto surgiu? Eu conto: era um belo sábado de sol e, como eu não aluguei um caminhão pra galera, eu meio que havia tomado coragem pra começar a escrever um texto sobre poesia goiana, o que há muito eu vinha pretendendo. Naquele sábado o texto enfim começaria a sair: eu havia até comprado, por exemplo, a poesia completa do Pio Vargas pra poder conferir com mais comodidade os poemas. A questão é que ― feliz coincidência! ― eu recebi um e-mail de uma das editoras da revista me convidando pra escrever algo. Indicação do Adriano Scandolara (te devo uma, cara).

Contribuí. Tive na prática duas semanas pra escrever o texto, mas, na verdade verdadeira, eu fiquei uma semana ou se brincar até menos que isso realmente escrevendo, uma vez que estava em época de prova (últimas semanas do semestre na faculdade) e tinha que ativar o modo rato-de-biblioteca pra que eu pudesse reler a poesia goiana praticamente inteira (em especial pra reencontrar os bons momentos daqueles poetas ruins: os bons dos bons, é claro, a gente nunca esquece).

Não vou dizer que se eu tivesse mais tempo eu teria escrito algo melhor. Preciso ser realista e reconhecer o cubículo que me cabe: eu não conseguiria escrever algo melhor que isso. É o mais sincero, franco e honesto a que pude chegar. Não quero dizer com isso que o texto seja isento de problemas. Na verdade, ele possui problemas eu julgo até graves, dentre os quais eu mesmo já vou começar a malhação do Judas (e sim, eu, como crítico, ainda que mirim, ainda que moleque, aguento a retranca):

1) O texto se pretende rigoroso, mas em alguns momentos não é bem por aí. Se eu pego o ditirambo de Cordovil apenas pra ressaltar uma onomatopeia como sendo pelo menos um esforço, então, por conseguinte, tendo em vista que eu acabei sendo bastante bonzinho com o autor (e falo isso mesmo com todas as ressalvas que eu fiz no próprio texto), então eu deveria ter sido mais bonzinho com outros. Isso, claro, se formos realmente ridicularizar a situação com uma terminologia como "bonzinho". O fato é que, em suma, eu teria sido mais rigoroso nesse assunto, e, embora ainda assim tivesse apontado a onomatopeia no poema do Cordovil, por exemplo, não gastaria tanta tinta com ela;

2) Há uma passagem que é realmente vergonhosa no poema, que é quando eu falo que Leodegária de Jesus se punha contra o Modernismo. Referência vária, absurda, sórdida, ávida, má! O problema aqui é que se um qualquer repórter me perguntar donde eu tirei essa informação, eu não vou saber te responder: minha consulta bibliográfica, tendo em vista o tempo exíguo, foi um tanto quanto bagunçada pelo menos no início de escrita do texto (e essa passagem sobre Leodegária foi das primeiras que escrevi). Além do mais, ela ter ou não se posto contra o Modernismo não faz diferença nenhuma. Nem mesmo o fato, por si só, de que tenha sido retardatária (e olha que ela foi mesmo: a poesia dela dá marcha-ré até um romantismo casimiriano...). É por ter sido retardatária e ruim;

3) Talvez você possa dizer que meu método é bagunçado. Óbvio que toda valoração possui suas imprecisões e imperfeições, e não tiro o meu da reta: pode ser sim que meu texto as tenha muito mais. A questão é que meu método, o rigor do que eu fiz ali foi simplesmente o de esmiuçar o poema, tentar singularizá-lo e só depois valorá-lo. Um princípio norteador aplicável a todo e qualquer poema indefeso não foi algo que eu busquei, embora, claro, alguns princípios gerais tenham existido (como por exemplo a busca pela concisão e pela inteligência textual);

4) Do mesmo modo, sei que poderia me estender nos comentários e ou discorrer mais sobre alguns poemas, ou então pelo menos apontar mais qualidades sobre alguns deles (Edmar Guimarães por exemplo merecia algo assim ― mas já eram não sei quantas da manhã, e o relógio estava nos instantes finais...). Ou mesmo adicionar alguns caracteres sobre algumas exclusões que você tem toda razão de, tendo em vista a forma como o texto foi escrito, caracterizar como peremptórias. Por exemplo o descarte, logo de início, de Gabriel Nascente e Edival Lourenço. Pois a respeito deles dois, eu diria, apenas do prisma de minha consciência, que se for realmente uma injustiça o que fiz, por ora essa injustiça eu enxergo como a de ter colocado os dois numa mesma frase (uma vez que a respeito de Edival Lourenço eu pelo menos buscaria argumentar sobre porque acho sua poesia um troço horrível);

5) E erros de português aqui e acolá.

Mas enfim. Não esgoto o rol de erros. A primeira pessoa que ficará contente com uma dissolução completa, completinha deste texto será eu mesmo. Acho que acabei transparecendo um rancor e uma pose idiota, mas sou um camaradinha bem humilde e aberto ao diálogo, sem contar que um tanto quanto volúvel. Gosto de tudo, em especial de redescobrir e me surpreender.