Banzando XII.

Não é de hoje que você tem se tornado uma boa notícia, Malala:





O Brasil já vive sob a ditadura das minorias, Jornal Opção, ed. 2048, aqui. O cara começa o texto até bem... Poxa vida. Até desandar em generalizações absurdas e em deturpações evidentes, como a leitura do artigo na Mayo Clinic Proceedings. Cito-o em específico pois é aí que se torna patente a falha mais explícita do texto, que é a de incutir juízos de valores sem um desenvolvimento argumentativo (o famoso "tirar da cartola"), posto que o autor pega um resultado científico que nos diz, simplesmente, "X% é X%", e então resolve, sabe-se lá de onde ou como, incluir um enorme "Pois" no meio, resolve simplesmente "interpretar" esses dados a seu bel prazer até o ponto de dizer que "Diante desses dados, a associação entre pedofilia e homossexualidade deixa de ser um preconceito moral para se tornar hipótese científica", quando isso simplesmente não está no estudo original!

É só ler: aqui.

A citação está entre as páginas 3 e 4 do pdf. Cito também, no tópico "What makes a pedophile?": "Pedophilia, especially the exclusive type, may be best thought of as its own category of sexual orientation, not something that is superimposed on an existing heterosexual or homosexual identity." (p. 7)

Enfim: aquela velha história do ter que dividir o brinquedinho da existência social digna. Você passa a ver quem reivindica um pouquinho que seja como inimigo. O mal que afeta o autor do texto é mais ou menos o que Keith Douglas diz em How to Kill: "How easy it is to make a ghost". Se você quiser um outro exemplo do que eu disse sobre o "tirar da cartola", o texto em que analisa aquele caso da mulher que resolveu adaptar Machado de Assis (aqui) é um bom exemplo também: a correlação que ele faz entre a adaptadora e Paulo Freire é infundada até as tripas. De onde ele tirou isso?, você se pergunta ante uma premissa fincada com tanta veemência. Provavelmente, do mesmo buraco em que angariara instrumentos pra reduzir o movimento feminista, o movimento negro e o movimento LGBT a apenas uma vertente... Ou, quem sabe, calcado na mesma raiz duvidosamente meritocrática de se propôr olhemos para os méritos e deixemos de lado o vitimismo ("Fique torto no seu canto. / Não ame."): melhor seria se tão somente observásseis os grandes exemplos do passado, torres de aço batido surgidas por geração espontânea.

Aqui, claro, o problema não está nem tanto na visão meritocrática, da qual, se querem saber, compartilho: é possível que o problema esteja no cinismo mesmo. Só isso pode explicar uma inversão tão estranha como a do título numa estrutura tão frágil como a do texto, por mais que rodeada de constatações pontuais sólidas.


Glitchr. Conhece? Eis: !

A arte de bugar o facebook. Entrevista com o dono da página aqui.

O trabalho desse cara me lembrou a definição de arte do Nicolas Bourriaud (aqui), de atividade produtora de relações com o mundo tendo como auxílio signos, formas, gestos ou objetos. O nascimento da forma é uma das partes que mais ganha atenção do Bourriaud. Ele toma como base uma analogia à concepção filosófica de Lucrécio e Epicuro, de que os átomos caíam em linhas paralelas e infinitamente. A menor mudança de trajetória acarretaria um bate-daqui-bate-de-lá que, "no final das contas" (entre aspas pois não tem isso de "no final..."), resultaria numa enorme bagunça que pode muito bem se chamar mundo. Arte: criação de mundos.

Pare pra observar nesse prisma e você verá que a essência da arte do Glitchr é esta. Se bem que também dê para se pensar em Deleuze e Guattari, de que arte: "(...) make a slit in the umbrella [com que as pessoas a um só tempo se protegem e traçam suas convenções], they tear open the firmament itself, to let in a bit of free and windy chaos and to frame in a sudden light a vision that appears through the rent (...)" (What is Philosophy, trad. Hugh Tomlinson e Graham Burchell, Columbia UP, p. 203)

Arte: criação de caos, caosmose. De fato.


Final de Lifting Belly.
Gertrude Stein.

                 (...)
     Can you sing about a cow.
     Yes.
     And about sign.
     Yes.
     And also about Aunt Pauline.
     Yes.
     Can you sing at your work.
     Yes.
     In the meantime listem to Miss Cheetah.
     In the midst of writing.
     In the midst of writing there is merriment.


§

Mais ou menos da metade de Patriarchal Poetry.
Também Gertrude.

                 (...)
     Patriarchal Poetry is the same.
     Patriarchal Poetry thirteen.
     With or with willing with willing mean.
     I mean I mean.
     Patriarchal Poetry connected with mean.
     Queen with willing.
     With willing.
     Patriarchal Poetry obtained with seize.
     Willing.
                 (...)